Como me tornei uma Drag Queen na Irlanda

Como me tornei uma Drag Queen na Irlanda

Colaborador E-Dublin

8 anos atrás

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Já faz um tempo que a Irlanda, considerada um país conservador, abriu o leque nas cores do arco-iris para a diversidade. Prova disso foi o referendo realizado em 2015, quando foi efetivada a aprovação do casamento para pessoas do mesmo sexo por meio do voto popular. E é justamente essa abertura ao diálogo que o jovem santista Lucas Viana, de 24 anos, vem compartilhar conosco, porque afinal, a Irlanda, que à princípio era apenas um lugar para realizar o sonho do intercâmbio, acabou dando vida a uma outra versão do Lucas que nem ele mesmo conhecia, a de drag queen.

Por Lucas Viana
Colaboração: Fabiano de Araújo

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Foto: Arquivo pessoal

Eu nunca havia viajado para tão longe e, apesar de amar a minha cidade, sempre senti que estava no lugar errado.

Meu maior sonho, desde muito novo, sempre foi me mudar para um país de língua inglesa, pois isso me daria a chance de falar outro idioma fluentemente e, assim, ser destaque no mercado de trabalho brasileiro. Com a aproximação da conclusão do meu curso de Relações Públicas, resolvi pesquisar os países onde eu, enfim, pudesse realizar esse sonho.

Foi por meio de um amigo que trabalhava em uma agência de intercâmbio que eu descobri a Irlanda, mais precisamente Dublin. Logo após me graduar pela UniSantos e convencer meus pais sobre os benefícios que essa aventura na Europa traria para a minha profissão, em apenas alguns meses eu me mudei para a Irlanda.

Assim como acontece com muitas pessoas, no início não foi fácil encontrar um emprego. Os primeiros meses foram frustrantes e desanimadores nesse quesito, até que em uma noite de sábado, quando eu e meus amigos saímos para nos divertir, as coisas começaram a mudar. Fomos a um dos mais populares pubs irlandeses, chamado The George, famoso por seus Drag Shows que encantam o público. Como eu estava em busca de um trabalho, sempre andava com um currículo no bolso e chegando ao pub, que também funciona como boate, aproveitei para deixar o meu currículo na chapelaria.

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Lucas como Alicia Ravenswood. Foto: Arquivo pessoal

Pude falar com a gerente assim que a festa terminou e duas semanas depois fui contratado para trabalhar na mesma chapelaria em que havia deixado o meu CV, ou melhor, no cloakroom, como chamam por aqui. Além de receber as pessoas para guardar seus pertences, minhas outras atividades incluíam ajudar as Drags Queens em pequenos afazeres nos bastidores durante os seus shows, até que um dia eu me tornei uma delas.

Sempre gostei muito de performances em boates brasileiras, mas foi apenas aqui que me apaixonei por esse universo, já que pude conviver com os bastidores e perceber como tudo acontece. Com o tempo o hobby se tornou trabalho sério. Semanalmente, atuo como performer e assistente da Veda Lady, a Drag Queen que comanda os shows na quarta-feira, onde vivo minha personagem chamada Alicia Ravenswood.

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Foto: Arquivo pessoal

Meu namorado também se monta e trabalha como cabeleireiro, além de me ajudar no que for preciso para a construção da Alicia. Ele é responsável pelos meus penteados e looks diversificados, me acompanhando em todos os shows.

Por já estar trabalhando no pub atuando em outra área, no começo foi um pouco estranho. Era engraçado me apresentar em um lugar cheio de colegas de trabalho, clientes e amigos que frequentam a casa. Mas com o tempo isso passou a ser algo que amo e a cada dia que passa gosto mais dos palcos.

Minha família lidou bem com a minha nova profissão e apesar do meu pai no início ter ficado, segundo ele, “bolado”, minha mãe e irmãs sempre me apoiaram em minhas decisões.

Sinto que os irlandeses, em geral, têm a cabeça bem aberta em relação à comunidade LGBTQ. Oficialmente, a primeira aparição da Alicia foi no carro da The George, na Parada LGBTQ de junho de 2015, evento que reuniu milhares de pessoas nas ruas de Dublin.

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Foto: Arquivo pessoal

Foi um momento único para toda comunidade irlandesa, pois acontecia a comemoração da aprovação do referendo sobre o casamento gay. Para quem não sabe, até 1993 ser homossexual na República da Irlanda era ilegal, e em maio de 2015 o país se tornou o primeiro do mundo a aprovar a união de pessoas do mesmo sexo através do voto popular, após anos de luta contra campanhas homofóbicas.

A cultura Drag teve e tem um papel importante na desconstrução de preconceitos e eu fico muito feliz de ter feito parte daquele momento tão especial em um país que tem muito a ensinar a todos os intercambistas.

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Foto: Arquivo pessoal

A série Meu Intercâmbio conta com a colaboração do repórter Fabiano Araújo e tem o objetivo de dar oportunidade a estudantes que estão vivendo a experiência de intercâmbio na Irlanda, de contar suas histórias, alegrias e perrengues como intercambistas. Se você também quer compartilhar como tem sido a sua nova vida desse lado do globo, basta entrar em contato com: [email protected]

Revisado por Tarcísio Junior
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