Passem o Natal na minha casa

Passem o Natal na minha casa

Leandro Mota

7 anos atrás

Seguro Viagem

Sabia que é obrigatório ter um seguro viagem para ir pra Europa?

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Crédito: Shutterstock

Procuro interessados em passar o Natal comigo. Na falta da minha família, estou atrás de pessoas que se encaixem nos perfis descritos abaixo.

– PARENTE que mora longe, mas sempre aparece nas festas de fim de ano:

Pode vir de Galway, Cork, Waterford ou cidades de outros condados. Swords e região também são benquistos. Na pior das hipóteses, aceito oriundos de qualquer Dublin acima de vinte. Se for de D1 ou D2, nem perca o seu tempo.

– PRIMA que sempre apresenta um novo namorado no Natal:

Para se encaixar neste perfil, você precisa ter se relacionado com pelo menos dois caras diferentes nos últimos doze meses. Rolo da Dicey’s não entra na conta. Aquele espanhol do Mercantile também não vale. Se você rejeita brasileiros e só pega gringo, ao menos arrume um que seja english speaker. Estamos ansiosos para ouvir – pela milésima vez – que nosso inglês é perfeito e que não precisamos de escola – será que os gringos realmente acham que a gente não sabe que eles estão tentando apenas ser legais conosco?

– TIOZÃO churrasqueiro que não larga o espeto nem durante a entrega dos presentes de amigo secreto:

Você deve dizer que comprou a picanha naquele açougue sensacional cuja localização só é conhecida pelos tios sabichões que existem em todas as famílias do mundo (sem exceções). Se for para economizar, nem traga o bife de patinho do mercado brasileiro. Preferimos a carne moída de € 3,28 do Tesco. Se aparecer com churrasqueira descartável da Euro Giant, será impedido de adentrar em nossa residência.

– CUNHADO mulherengo com passado duvidoso:

Pode me contar tudo. Eu juro que não vou abrir a boca para a sua namorada. Me fale da primeira irish que você xavecou. Tem aquela vez que você ficou quinze minutos conversando com uma mina em inglês e no final descobriu que era brasileira. E a coreana que te curtia, mas não quis ficar contigo porque era muito tímida? Conte-nos sobre as mexicanas e as espanholas que você quase beijou. Quase! Foi por pouco, né? Pelo menos você adicionou no Facebook.

– TIA que traz o peru cozido na bandeja de marmitex coberto com papel alumínio:

Passe no Iceland que tá valendo. Pelo menos a embalagem é igual.

– PRIMO que vive pedindo mais uma chance para trabalhar no escritório do tio advogado (após ter sido demitido três vezes por justa causa):

Não esqueça de trazer o seu currículo de kitchen porter. E o de cleaner. E o de au pair. E o de barista. E o de barman. E o de bar staff. Pergunte a todos os presentes se alguém sabe de alguma oportunidade de emprego. Fuja de qualquer um que cite as palavras “charity”, “door to door”, “donation” e “Irish Cancer Society”. Vai por mim. Eu sei do que estou falando.

– AVÔ desbocado que passa a noite de Natal inteira falando palavrão e causando mal-estar entre filhos e noras:

Vaga a ser preenchida por intercambistas trintões que largaram tudo no Brasil para finalmente aprender inglês na Irlanda. Não se envergonhe por ser o único da turma que não precisa mostrar identidade na Dicey’s. Na verdade, é melhor do que pedir RG emprestado para a flatmate nova que ficou em casa porque tem aula amanhã de manhã. Toda vez que se sentir deslocado, utilize a palavra “fucking” antes de qualquer frase. Isso te faz parecer mais jovem além de dar fluência ao seu inglês (mesmo que a frase seja em português).

– AVÓ que sempre puxa a oração antes da meia-noite:

Não esqueça de nos convidar para aquela igreja perto da sua casa onde cobra-se apenas dois euros por uma hora de conversação em inglês.

– PRIMO que todo ano convida um amigo de procedência estranha para celebrar o Natal com a família:

Apenas traga um naná.

– SOBRINHO pré-adolescente que pensa ser o mais inteligente da família:

Se alguém perguntar qual é o seu nível na escola, comece explicando que o diretor não vai com a sua cara. Critique os métodos de ensino e conte-nos sobre a preguiça do professor em explicar regras de gramática. Se insistirem na questão, desconverse dizendo que o inglês aprendido na rua vale muito mais do que o ensinado na sala de aula. Caso persistam no assunto, diga que você está apenas aguardando o próximo teste para subir para o “avançado”. Por motivos óbvios, evite falar “advanced”.

– PRIMA que não larga o microfone do videokê mesmo quando as suas tias querem cantar Roberto Carlos:

Já ganhou mais de dez euros tocando na Grafton com aquele seu amigo irish? Então seja bem-vinda.

– PADRINHO policial que passa a ceia impressionando os sobrinhos com histórias de tiroteio:

Chame um brother que trabalha na GARDA. Se não tiver, traga um segurança de balada latina. Nenhum conhecido? Convide um polonês.

– PRIMO que passou um tempo estudando no exterior e vive fazendo comparações entre o Brasil e outros países:

Serve qualquer um de vocês.

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Leandro Mota, Jornalista desde 2005. Trabalhou por oito anos na Rádio CBN. Fanático por futebol, cobriu duas Olimpíadas (2008 e 2012), uma Copa do Mundo (2010) e outros eventos esportivos. Em 2009, ganhou o Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos por uma série de reportagens sobre preconceito e xenofobia na Europa. Certo dia, bebeu demais e acordou em Dublin. Ainda não descobriu como voltar para o Brasil.

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